15 de setembro de 2011

Crítica | A Inquilina

Péssimo roteiro inviabiliza boas atuações
Matheus Lara

O interesse mercadológico está evidente em “The Resident” (A Inquilina), primeiro longa de Antti Jokinen, o finlandês diretor de videoclips de artistas como Celine Dion, Kelly Clarkson e Anastacia. A fórmula do suspense previsível já teve provas suficientes de que é eficaz. O roteiro obscuro ligado a nomes famosos e tudo isso inserido em uma produtora de renome é sucesso garantido.
É isso que acontece em “The Resident”, que conta a história de Juliet (Hillary Swank), uma mulher que, após flagrar o marido na cama com outra, resolve mudar de vida começando pelo lugar onde mora. Assim, acaba se mudando para o prédio de Max (Jeffrey Dean Morgan). A tensão do filme, de início, é mais para o espectador do que para a personagem, uma vez que nós é que somos álibis do que está para acontecer. Juliet, então, percebe uma presença estranha no apartamento e descobre, com o tempo, que Max é um voyeur meio psicótico que quer possuí-la (esse é o termo certo) de qualquer forma. “The Resident” tem cara de Tela Quente.
Quanto ao enredo, o filme pode ser dividido em três partes. A primeira, mais melosa, conta a história do ponto de vista da personagem de Hillary Swank, a mocinha que está sofrendo com as perturbações do desconhecido. A segunda parte, que oscila entre o mais interessante e o insosso a cada minuto, conta a mesma história do ponto de vista do voyeur, Max, o que deixa o filme com cara de drama psicológico por uns dois ou três minutos.
A troca de perspectiva pode causar estranhamento, mas isso, querendo ou não, é o ponto alto do filme. Na primeira parte, estamos preocupados com a personagem feminina, que pode estar próxima de ser atacada por algo que não sabemos o que é. Já na segunda, quando viajamos com Max por suas obsessões (em um jogo de câmera muito bom, diga-se de passagem, créditos a Guilhermo Navarro), torcemos para que ele, o vilão, não seja pego pela mocinha.
A terceira e última parte do filme é quando acompanhamos o derradeiro encontro do casal quando tudo já está revelado. Isto é um fato suficientemente razoável para que esperemos algo surpreendente, que poderia contar, por exemplo, com a ilustre presença do sombrio personagem de Christopher Lee.
Lee tem uma passagem ridícula e indigna no filme, pra não dizer desnecessária. Contrato puramente comercial. Fazer a ligação dos estúdios Hammer e Christopher Lee, mais a ganhadora de dois óscars Hillary Swank foi mais uma jogada inteligente que serve para desviar a atenção do roteiro e da direção medíocres.
Outro personagem que poderia fazer um estrago bacana no filme, e que é usado só pra... Pra quê mesmo?... É o do marido traidor de Juliet, Jack, interpretado por Lee Pace, que aparece na mesma velocidade que some. O pecado do roteiro, portanto, é não investir em novas problematizações. Logo que o grande segredo é revelado, no meio do filme, o espectador começa – com razão -, a esperar uma grande reviravolta, mas acaba se decepcionando com o sumiço do que poderia ser um ponto chave na valorização do enredo (os personagens de Lee Pace e Christopher Lee), e com a continuação de um roteiro simples que caminha apenas para o esperado.
Com tudo isso, quem mais se prejudica em “The Resident” é a menina de ouro Hillary Swank, que tem seu talento desperdiçado em uma personagem que só não é interessante por falta de valorização do tudo que a rodeia.

Pontos altos: Câmeras acompanhando o vilão na troca de perspectiva
Pontos Baixos: Roteiro, direção e péssima utilização do elenco            
Surpresas: Nenhuma 
Nota: 2,5 bilhetes

Matheus Lara
imagens: imdb.com 

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