15 de setembro de 2011

Crítica | Ace in the Hole


Desculpe leitor por deixar um título extremamente repetitivo e óbvio sobre o filme “A montanha dos sete abutres” (título original, Ace in the Hole). Mas a explicação para esse título é que ele está servindo como uma menção em defesa as entidades jornalísticas. A princípio o filme do diretor Billy Wilder, é sobre um repórter veterano, Charles Tatum (Kirk Douglas), que após ser demitido de todos os grandes jornais impressos dos EUA, se refugia na cidade de Alburqueque, Novo México, em busca de emprego em um jornal local. Tatum acreditava que com apenas dois meses ele conseguiria uma grande reportagem e poderia voltar aos grandes circuitos da imprensa.

Porém passa se um ano e Tatum continua trabalhando no jornal de Jacob Q. Boot (Porter Hall) em Alburquerque e não conseguiu a grande reportagem que desejava. Mas em uma saída a campo para noticiar sobre uma corrida de cascavéis, Tatum e o novato repórter Herbert Cook (Robert Arthur) descobrem que um morador, Leo Minosa (Richard Benedict), ficou preso em uma mina em busca de relíquias indígenas. No entanto Tatum utiliza do sensacionalismo e do seu poder como jornalista para chantagear as autoridades locais e passa a ser o único correspondente sobre o caso. O resgate de Leo que estava previsto para levar 12 horas (tempo para levantar as paredes caídas da mina), passa a ser feito em seis dias pela vontade e até a ganância de Tatum em conseguir mais informações e também porque finalmente ele havia encontrado a sua grande reportagem, o seu trampolim aos grandes jornais. Porém o que deveria ter terminado como uma história feliz acaba triste com morte de Leo no quinto dia da escavação e previsivelmente Wilder nos dá o gosto de vingança com a morte de Tatum ao final do filme.

“A Montanha dos sete abutres” parcialmente me levou a lembra da critica feita na semana passada sobre o filme “Kagemusha: A sombra de um samurai” de Akiro Kurosawa, em que também explorei sobre como a ganância humana pode prejudicar um grupo social. No entanto Wilder não pretende questionar os valores do jornalismo, ou julgar o sensacionalismo, mas talvez esteja apenas identificando que existe uma reconfiguração da realidade conforme a imprensa noticia um acontecimento. Diria sobre a ambientação da ética jornalística das redações, Wilder explorar mais em seu filme “Primeira Página”, porém a caracterização da imprensa marrom (como vulgarmente é conhecida a imprensa sensacionalista) não está aproximando a reflexão de que sensacionalismo é mentira, ao contrário o próprio Tatum em nenhum momento mente sobre o caso, mas seu erro foi utilizar de uma mídia para se fortalecer e colocando em risco a vida de outro.

A não receptividade de “A Montanha dos sete abutres”, está na prática de pensar que o público jamais aceita que ele é um simples voyeur. Isso Wilder mostra de maneira irônica e dramática ao mesmo tempo. Wilder vive essa constante eficácia das manipulações, eu arrisco a considerar que na realidade o público jamais entendeu as preocupações e até as atitudes de Tantum.

Outra curiosidade desse filme é sua exibição ser próxima aos 10 anos do ataque do 11 de setembro que não seria uma condição de noticia sensacionalista, mas apenas uma ‘espetacularização’ dos acontecimentos. O que existe na noticias e uma busca do público sempre por um bem e um mal, por um vilão e um mocinho, e, no entanto Wilder nos dá um vilão carismático, bonito e cheio de autopiedade de seus atos. Wilder já deixou muitos clássicos ao seu público, e com “A montanha dos sete abutres”, inaugura uma nova fase ao Cinema Noir hollywoodiano e é claro desvendado mais da realidade de forma bem dramática e romanesca.
Gildo Antonio

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