3 de fevereiro de 2012

Crítica | Rango

"My character's undefined? That's absurd! I know who I am. I'm theeee....I'm the guy! The protagonist, the hero"


...

Fim das férias, então?

Nada melhor do que voltar a ativa falando sobre o Oscar, o maior prêmio do cinema mundial, a entrega da gloriosa e imponente estatueta dourada, concedida apenas àqueles heróis, cujas obras ficarão na história do cinema e na imaginação do povo para todo sempre, certo?

Heh... De minha parte, nunca gostei muito da premiação. Na verdade, não dou muita bola mesmo. Um crítico cinematográfico que se preze deveria estar a par de tudo isso, mas eu não tenho a presunção de me dar qualquer préstimo.

E ainda tem gente que lê o que eu escrevo...

Très bien, ao invés de me dobrar à mídia e assistir um dos filmes por eles indicados (mentira, deu preguiça de ir atrás), eu escolhi um dos dois indicados que eu já havia assistido. Uma animação. Do caralho.

E, para justificar minha escolha e meu ponto de vista, devo dizer que meu pai tem uma extensa coleção de gibis de faroeste. Eu cresci lendo as incríveis histórias de cowboys cavalgando pelas pradarias. Heróis miseráveis, rústicos e austeros, que ostentavam um admirável código de honra e conduta. E faziam-lhe valer com dois Colts na cintura e um Winchester em punho.

Minha escolha, assim sendo, é Rango. O filme carrega o nome do protagonista, um herói inteligente, insano e adepto de uma boa verborragia – como alguns dos melhores heróis que conheço – que lembra os trejeitos de seu dublador, Johnny Depp. Rango é um camaleão que vive em um aquário, com um peixe de brinquedo, uma barata e meia boneca. Até que tudo isso cai de uma camionete em movimento e se espatifa no asfalto da highway que leva à Las Vegas.

A queda é uma cena interessante, com uma ponta dos protagonistas do excelente “Medo e Delírio em Las Vegas” – sobre o qual ainda vou escrever aqui – que passam por essa mesma estrada, no seu grande conversível vermelho, cheio de drogas. Aliás, Rango lembra um pouco Hunter Thompson, o protagonista de “Medo e Delírio”.

O filme segue, Rango vai parar em uma cidade no meio do deserto, que sofre com problemas de abastecimento de água e o assédio de bandidos. Uma escancarada paródia dos antigos westerns que fizeram parte da infância de muita gente, com direito a sotaques sensacionais (recomendo assistir legendado), uma bela dama (nem tanto), duelos ao meio dia, grandes parceiros, pistoleiros, ladrões, trapaceiros, charlatões e canalhas de toda espécie.

Além disso, é carregado de referencias a diversas outras produções de outros gêneros. Por exemplo, tem uma cena de perseguição aérea, regida pela épica Cavalgada das Valquírias, que remete à Star Wars e Apocalypse Now de uma pegada só. Rola, também, uma em que Rango percebe a si mesmo em um deserto extremamente branco. A situação e as atitudes do lagarto nesse lugar lembram muito do capitão Jack Sparrow, quando preso no “Fim do Mundo” pelo temível Davy Jones.

Pode-se dizer, enfim, que o filme se parece muito com seu protagonista. Ambos não possuem uma identidade própria ou uma personalidade definida, sem que isso seja um defeito.

Contudo, todo esse êxtase de piadas inteligentes, insanidade, e referencias geniais divide o tempo da película com certos momentos, tiradas e trejeitos um tanto cansativos e exagerados. Gore Verbinski, o diretor – o mesmo de Piratas do Caribe – não conseguiu alcançar o equilíbrio perfeito e alguns trechos esparsos no filme te fazer desejar que ele acabe logo. E a maioria dos personagens é malditamente feia!
Ainda assim, é uma bela obra, uma admirável homenagem aos grandes do faroeste que mereceria a estatueta. Mas não acredito que vá ganhá-la, sua formula é diferente, de um jeito que eu não acho que o Oscar vá apreciar devidamente.

Enfim, recomendo de verdade, principalmente se você cresceu acompanhando as aventuras destes grandes homens, como Clint Eastwood, John Wayne e Tex Willer. E as corujinhas mariachis são fodas.


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