12 de março de 2012

Crítica | Na mira do chefe

“A great day this has turned out to be. I'm suicidal, me mate tries to kill me, me gun gets nicked and we're still in fookin' Bruges!”
...
Tudo começa com uma bela e calma trilha sonora em piano, algumas tomadas de construções antigas, medievais, meio obscuras e sombrias e uma voz, com um puta sotaque irlandês, narrando os acontecimentos que o levaram para aquele lugar.
Dessa narração, o filme pula para uma tomada fechada de dois irlandeses, em uma paisagem gelada, da qual só se vê o topo da torre de um castelo e alguns galhos congelados, sem folhas. Os dois discutem se Bruges é, ou não, “a shithole”. Um buraco de merda, em tradução literal. Ah, vale lembrar que os irlandeses são Colin Farrel, como Ray, e Brendan Gleeson, como Ken. Isso já garantiu que eu ficasse para ver o filme inteiro.
E não me arrependi. Ambos são assassinos contratados e, aparentemente, o último trabalho não saiu como o esperado. O alvo morreu, mas algo deu errado. Então o chefão (Ralph Fiennes, para aumentar o grupo de astros) mandou-os “dar um tempo” em Bruges, por umas duas semanas, para deixar a poeira baixar enquanto esperam por novas ordens.
No inicio ninguém entende o porquê dessa escolha de destino para as “férias”. Ken, mais velho e tranquilo, fica sossegado com a ideia de umas férias em uma cidadezinha como aquela. Ray, hiperativo, mais simplista do que o parceiro e aparentemente incomodado com alguma coisa, odeia o lugar. E o fato de ter de dividir um quarto com o parceiro. (For two weeks? In fucking Bruges? In a room like this? With you? No way).
Para completar, os dois não se entendem muito bem e estão o tempo todo discutindo. E as discussões deles são sensacionais! Os desgraçados são muito engraçados. E não no estilo Adam Sandler de engraçados. Todo o filme é carregado de muito humor negro, do começo ao fim. Um humor que se encaixa perfeitamente no drama que eles estão passando. Alguma coisa assombra Ray o tempo todo. E estar em Bruges não ajuda a abrandar a situação. Ele fica paranoico, depressivo e agitado. Lentamente, os dois assassinos começam a se tornar amigos. Mas as discussões continuam malditamente divertidas.
E aí em diante “the plot thickens”, a trama se adensa, descobrem-se os planos de Harry, o chefe, e surgem novos elementos, como Chloe, a nativa, com quem Ray "sai para jantar" e Jimmy, o anão racista, astro do filme que estava sendo gravado na cidade.
E eu paro por aqui, para evitar spoilers impertinentes, acho que isso foi suficiente para dar uma noção da quantidade massiva de humor negro que o filme consegue condensar, se mantendo inteligente, o que é difícil. Geralmente, quando tanta coisa desse gênero se junta em uma película, ela tende a se tornar idiota. In Bruges foge dessa regra.
O drama que surge por volta do meio do filme ajuda a dar-lhe um peso diferente das comédias comuns e o enfoque da câmera alimenta uma espécie de surrealismo, que se apoia na ideia de “fairytale town” – uma cidade de contos de fadas – e causa um efeito interessante.
O filme só peca em ser um tanto exageradamente abstrato em alguns trechos, chegando a ser confuso às vezes. E o final é muito estranho. Ainda assim, a trama é espetacular. Vale a pena assistir. E merece um 8,5.

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