26 de março de 2012

Especial | À Prova de Morte (Quentin Tarantino)

Tarantino não inovou no quesito sensualidade + terror, mas com toda a certeza posso dizer que inovou na questão de deixar um filme, rotulado como trash, bom. Death Proof é sobre um ex-dublê que possui um carro possante exclusivo para ser usado na profissão, um carro “à prova de morte”. Equipado com o vantajoso veículo, ao invés de usá-lo para automutilação ou para aventuras radicais, o Stuntman Mike (Kurt Russel), como é chamado, prefere perseguir sensuais e lindas jovens até a morte, literalmente. O primeiro grupo de meninas, as azaradas, devo assim dizer, se deu mal, já quanto ao segundo, deu ao “cara-mal” o que merecia.
A “equipe sensualidade” de Quentin Tarantino é formada por Rosario Dawson, Vanessa Ferlito, Sydney Tamija Poitier, Tracie Thoms, Rose McGowan, Jordan Ladd, Mary Elizabeth Winstead, Marcy Harriell e a simpática Zoe Bell, dublê na vida real, interpretando nada mais nada menos do que... ela mesma.

O roteiro foi minuciosamente manipulado por Tarantino, garantiu ao filme uma boa reputação e crítica. O filme tem um ritmo adolescente, rápido; a última perseguição tem um toque de Velozes e Furiosos (críticas à parte), pois consegue deixar o telespectador grudado na tela, na expectativa, tenso.
Se comparadas ao Resevoir Dogs as meninas de Death Proof não deixam a desejar, é claro que dessa vez o grupo seletivo faz parte do time dos “mocinhos”, ou deveria dizer mocinhas? E moças apimentadas, não encarnadas no corpo de loira, indefesa, inocente e com, necessariamente, partes do corpo avantajadas. As moças de Tarantino além de apresentarem a sensualidade (pelo menos o segundo grupo delas), conseguem ainda apresentarem inteligência como qualidade, quebrando os ditados. Bem, voltando a comparação, há uma cena no filme em que as meninas tem uma conversa comum, falas que não são fundamentais para o entendimento da história, mas que sem sombra de dúvida, dão um toque de realismo, voltam a aparecer como em Resevoir Dogs.

A sua então homenagem aos trash movies dos anos 70 é cheia de referência, podemos listar de início a primeira cena: Jungle Julia (a locutora sensual pertencente ao primeiro grupo de garotas) deita-se embaixo de um pôster de Bridget Bardot, na mesma posição que a antiga atriz. As referências não acabam por aí e são inclusive a filmes seus. Podemos notar, por exemplo, que além da conversa aleatória como em Resevoir Dogs o segundo grupo de meninas, tem um carro amarelo com listras pretas, ok, aqui vai à pergunta: A qual filme de Tarantino se remete as cores amarela e preta? Tic toc ti... KILL BILL! É claro. Com referência não clara o suficiente, Tarantino faz questão de colocar como toque de celular de uma de suas personagens, a música pertencente à trilha sonora de Kill Bill.

Quase que separado em dois pequenos filmes, com um mesmo (e feio) vilão é claro, ao ir pra “segunda parte” Tarantino faz uma pequena sequência em preto e branco, remetendo aos trash movies, que não dispunham de grande orçamento. Se você ficou com cara de interrogação ao ver uma cena metade P&B, metade colorida: não se preocupe, basta ter doutorado em Cinema para entendê-la, mas contiuemos...

Outro recurso a ser notado é os “shots”, os congelamentos de imagem seguidos por fotografias detalhadas, isso fica complicado de se explicar com palavras. Pois então, temos um exemplo: ao colidir com o carro de Stuntman Mike, Tarantino faz uma sequência de shots que mostram detalhadamente (e uh, dolorosamente) a morte das garotas, o que acontece com seus corpos quando a física entra em ação durante a batida.

 Poderíamos falar sobre Tarantino por parágrafos e mais parágrafos, mas eu os deixo com a conclusão de que ao final do filme o que me vem a cabeça é: “Dude, you shouldn’t mess with us”. O final tem um “quê”, dos muitos charmosos, de feminismo, de algo poderoso. Apesar de não ter sido lançado comercialmente, Death Proof mostra sua potencia diante dos filmes trash e destaca-se, corra atrás do prejuízo e encontre “a prova de morte” mais perto da sua casa.

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