10 de maio de 2012

Cinema Nacional | Paraísos Artificiais

A primeira impressão que se tem ao ouvir falar de um filme nacional que possui um enredo envolvendo drogas e adolescentes é "mais um Tropa de Elite/Cidade de Deus". Pois bem, Paraísos Artificiais se trata de adolescentes E drogas, mas vai além desse recorte limitado da realidade que envolve os dois temas. Honestamente, fico confuso sobre o ponto que posso utilizar para começar a explicar a história, os personagens e, principalmente, a profundidade implícita no laço da vida dos protagonistas. 

Por que RAIOS "Paraísos Artificiais"? Bem, esse é o nome de um livro do Baudelaire, que remete ao universo temporário ao qual as drogas podem levar a galera. Mas aqui o cenário é outro. A música eletrônica, os locais frequentados pelos jovens da high society envolvidos com as novas dorgas manolo, enfim, o universo de uma outra classe que até então não havia sido trabalhado de maneira tão cuidadosa como nesse filme. 

Logo após a saída da cadeia de um dos protagonistas, Nando (Pablo Padilla), entramos em uma sequência anacrônica de flashbacks que montam a história (como se fosse um quebra-cabeças mesmo, demorei um tempinho pra me localizar). Temos então três espaços e três tempos diferentes: o momento presente, no Rio de Janeiro, o "dois anos antes", em Amsterdã (UUUI, eles foram para a Holanda, risos) e o "quaaaaatro anos antes" em uma Rave cheia de gente bunyta, gente descolada e gente moderrrrna, em Pernambuco.

O filme é físico. O toque da pele entre os personagens é transcendental, tanto entre Érika e sua... parceira (?) Lara (a gatíssima da Oscar Freire 279, Lívia de Bueno), como entre Érika e Nando, em todas as situações. É isso que a droga do amor faz. Independente de ser ou não estimulada pela gotinha mágica ou pela química. As cenas desfocadas, as cores fortes e as batidas pesadas e lentas tiram o ar do espectador.

Acho que facilitaria explicar o que se passa pela música. A batida eletrônica da DJ Érika (Nathalia Dill) conduz o que se passa nesses três locais. Érika conheceu Nando na balada (ai, clichê, ok) em Amsterdã e os dois se tornaram um casal feliz, só que não. Na realidade, Érika conheceu Nando na rave descolada em Pernambuco. E, digamos que eles se conheceram BEM. E depois de mais dois anos que eles se conheceram pela segunda vez (Drew Barrymore feelings)... ADIVINHA? É.

Agora, O DESTAQUE MOR: a câmera mostrando as viagens dos protagonistas. As sensações extra-sensoriais, o som, novamente presente, o efeito que o diretor de fotografia utiliza para fazer com que você também se sinta drogado é INS-TI-GAN-TE. Quase resolvi entrar pra esse mundo quando saí do cinema. Aí lembrei que não posso. :(

Não prolongando-me na história - fato que seria um saco e te pouparia de ir ao cinema - posso dizer que me surpreendi com o filme. As histórias se cruzam e o íntimo de cada personagem é trabalhado de forma delicada, permitindo que cenas simples expliquem e encaixem esses períodos temporais. O maior exemplo disso é o último olhar do filme. Só assistindo para entender. 

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